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Foto: Divulgação – Rede Salesiana Brasil
VEM AÍ O NOVO ENSINO MÉDIO

O Novo Ensino Médio está chegando e a dúvida sobre o que mudará nas rotinas de aprendizagem é comum tanto entre os próprios alunos e alunas, quanto entre as famílias. Pensando nisso, a Rede Salesiana Brasil (RSB) traz a mestra em educação e assessora pedagógica da RSB-Escolas, Maria Leoneide Rodrigues de Almeida, que também acompanha e apoia as escolas salesianas do Brasil na implantação do Novo Ensino Médio, para tirar algumas dúvidas sobre as novidades que estão por vir para os alunos e alunas deste seguimento escolar. Confira a entrevista:

O QUE É O NOVO ENSINO MÉDIO?

O Novo Ensino Médio é a nova proposta para reestruturar o atual Ensino Médio e deve ser implantada, gradativamente, a partir de 2022. As mudanças buscam sintonizar as escolas de Ensino Médio – pública e privada – com as exigências da sociedade contemporânea e com as expectativas dessa geração do século XXI. Para isso, a proposta é oferecer um Ensino Médio que possibilite não só melhorar a qualidade de aprendizagem dos estudantes, como também proporcionar maior autonomia, protagonismo e engajamento dos adolescentes e jovens na construção do seu projeto de vida, de maneira que possam levar para a vida, o que aprenderam na escola e assim contribuírem mais e melhor com a construção de uma sociedade mais humana, solidária e cidadã.

SOMENTE AS ESCOLAS SALESIANAS FARÃO A IMPLANTAÇÃO DO NOVO ENSINO MÉDIO?

Não. Todas as escolas – pública e privada – do sistema brasileiro de educação básica terão de reestruturar esta última etapa, o Ensino Médio, de acordo com as determinações legais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e da Lei 13.415, conhecida como a Lei da Reforma do Ensino Médio, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases (LDB/ 1996).

O QUE AS FAMÍLIAS PODEM ESPERAR DE MUDANÇAS A PARTIR DO PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO?

As famílias podem esperar, principalmente, uma mudança na organização do trabalho pedagógico e na metodologia de ensino, pois o foco principal, agora, não é mais o cumprimento da enorme lista de conteúdos das treze ou mais disciplinas trabalhadas no ensino médio, e sim o desenvolvimento de competências e habilidades para se alcançar uma formação integral dos estudantes. Na prática, os estudantes devem aprender de forma mais ativa, com metodologias que possibilitem o envolvimento deles com situações de aprendizagem diversificadas que os levem a trabalhar, com mais interação e não de forma predominantemente expositiva, os “objetos de conhecimento”, denominação dada pela BNCC aos conteúdos, conceitos e processos.

O QUE MUDA PARA OS ALUNOS A PARTIR DA IMPLANTAÇÃO DO NOVO ENSINO MÉDIO?

A principal mudança é que o Novo Ensino Médio terá duas partes bem estruturadas. A primeira é uma parte comum nacional, denominada FORMAÇÃO GERAL BÁSICA (FGB). Essa parte foi determinada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento oficial, com força de lei, que definiu uma matriz de habilidades e competências para as quatro Áreas de Conhecimento, a serem desenvolvidas nos sistemas – público e privado – de ensino médio, em todo o território brasileiro.

A segunda parte é a estrutura flexível do currículo para atender não só às expectativas dos estudantes, com possibilidades de escolhas, mas também às questões dos contextos locais e regionais onde o estudante vive. Trata-se dos ITINERÁRIOS FORMATIVOS. É nessa parte que os estudantes poderão se aprofundar em uma ou mais Áreas do Conhecimento e/ou na Formação Técnica e Pro­fissional, de acordo com seus interesses e capacidade de oferta das escolas/redes.

Os Itinerários Formativos serão constituídos de Unidades Curriculares diversificadas e devem ser oferecidas no formato de módulos, disciplinas, cursos, núcleos de estudos, observatórios, núcleos de criação artística, incubadoras, laboratórios, clubes, projetos, ofi­cinas, entre outros. A duração e carga horária dessas unidades curriculares podem ser anual, semestral, trimestral, bimestral, entre outros; e o os locais podem ser na escola, em instituições parceiras e a distância. A definição “do quê” e “de como” oferecer fica a cargo da escola. O importante é que a abordagem pedagógica dessas Unidades Curriculares seja de natureza mais prática, interativa, inclusiva e diversificada e com intencionalidade pedagógica bem definida.

Outro ponto muito importante nessa reforma é o componente curricular PROJETO DE VIDA. A escola deve ter o Projeto de Vida do estudante como a centralidade do currículo e todo o trabalho pedagógico deve proporcionar a ele oportunidades efetivas de desenvolver a capacidade de de­finir os objetivos para sua vida pessoal, acadêmica, profissional e cidadã. O Projeto de Vida é obrigatório em qualquer Itinerário Formativo.

Quanto às escolhas, estas podem ser feitas, também, por meio das Unidades Curriculares Eletivas. O propósito dessas ELETIVAS é oferecer ao estudante oportunidades para a ampliação de conhecimento nas áreas de interesse, apontadas por eles, por meio de consultas realizadas, ou por ser uma área de relevância para a realidade local.

Outra mudança desta reforma é a ampliação progressiva da carga horária de todo o Ensino Médio para 3.000 horas, sendo 1.000 por ano, já a partir de 2022. Hoje, a carga total do Ensino Médio tem uma média de 2.400 horas, sendo 800 horas por ano. Ainda não há prazo para a meta principal que é chegar a uma carga total de 4.200 horas, sendo 1.400 por ano. Isso deve acontecer progressivamente, depois desta primeira etapa da reforma que vai de 2022 a 2024. Vale ressaltar que este aspecto da carga horária é uma mudança que vai impactar mais as escolas públicas, uma vez que as particulares já praticam uma oferta maior de carga horária. De qualquer forma a reorganização dessa carga horária, de fato, é um desafio importante para as escolas particulares.

Por fim, as mudanças no Enem, que terá duas etapas, uma com a prova comum (BNCC) e a outra com a prova por itinerário formativo.

COMO A REDE SALESIANA BRASIL DE ESCOLAS ESTÁ APOIANDO SUAS INSTITUIÇÕES NESTE PROCESSO?

Desde 2019, a RSB-Escolas tem acompanhado as escolas no processo de conhecimento dos documentos oficiais para melhor apropriação das mudanças estabelecidas. Por meio do Centro Salesiano de Formação (CSF), ao longo de 2019, os educadores de Ensino Fundamental – Anos Finais – e os de Ensino Médio da RSB-Escolas participaram de encontros formativos, nos quais não só foram trabalhadas as mudanças definidas por lei, como também esses educadores vivenciaram pequenas oficinas de metodologias ativas e participativas com o propósito de incentivá-los a focar na centralidade dessas mudanças, que pode ser “traduzida” assim: na sociedade contemporânea, a forma de os estudantes aprenderem é diferente da forma como se pratica o ensino no atual ensino médio.

Por essa razão, em 2020, na modalidade virtual, várias formações sobre temáticas bem diversas, por exemplo, metodologias ativas, tecnologias e soluções educacionais, Comunicação Não-Violenta, Comunicação e Interação entre professor e aluno, pensamento computacional, robótica, entre outras, foram oferecidas aos educadores salesianos. Assim, com um programa consistente de Formação Continuada e contínua, a RSB-Escolas tem contribuído para que as escolas realizem essas mudanças com segurança, eficiência e eficácia e, sobretudo, preservando a essência da educação salesiana, a serenidade e a tranquilidade em todo o processo.

QUAIS SÃO AS MAIORES DIFICULDADES DAS ESCOLAS NESTE PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO?

A organização do trabalho pedagógico na nova configuração de distribuição da carga horária, tanto da Formação Geral Básica como dos Itinerários Formativo, é um dos maiores desafios, pois o realinhamento das aulas causará impacto com relação ao que se pratica, hoje, nas escolas. Também, a postura didática do professor que, enquanto atua no processo, terá de se empenhar para desenvolver competências de um “professor-mediador”, saindo do perfil de um professor detentor e transmissor de conteúdo/conhecimento. Perfil este, resultado da formação de todos os educadores que atuam, hoje, na educação brasileira. Por essa razão, em todo o processo de implantação, seguiremos com a formação dos professores, iniciada em 2019.

É importante ressaltar que um trabalho pedagógico, na perspectiva da aprendizagem ativa, incentiva não só os estudantes a aprenderem de forma colaborativa, mas também os professores que, neste contexto, com seus pares, vão buscando avançar em vários aspectos, como por exemplo, na relação e interação com os estudantes e nos métodos e estratégias didáticas para aprendizagens mais significativas. Para isso, a contextualização dos assuntos e a valorização dos conhecimentos prévios dos estudantes já é uma realidade nas escolas salesianas, pois existe, por parte dos educadores, a compreensão de que todo conhecimento deve ser trabalhado de forma contextualizada e aplicada, para se tornar mais significativo e útil à vida do estudante.

Nesse sentido, há também um empenho em se avançar com os estudantes a construção da consciência “do quê” e “de como” aprendem, pois é fundamental que eles reconheçam que os conhecimentos são interdependentes, ou seja, não há “blocos” exclusivamente de uma ou outra disciplina, de uma ou outra área de conhecimento, pois, mesmo existindo aspectos específicos de cada componente curricular e de cada área, todos os conhecimentos se interligam e, de alguma forma, é nessa conexão que passam a ter mais sentido prático e o estudante pode levá-lo para a vida.

Ou seja, como toda mudança, as dificuldades existem e são diversas (algumas até adversas), mas essa nova estrutura, por si só, exige empenho colaborativo por parte de todos os educadores envolvidos, principalmente dos professores, que são, efetivamente, os profissionais que estarão mais diretamente com os estudantes, colocando em prática essa nova forma de trabalhar educação.  E como esse empenho colaborativo é uma característica marcante do educador salesiano, essa implantação acontecerá com muita troca e aprendizado colaborativo.

QUAIS SÃO AS MAIORES DÚVIDAS DAS FAMÍLIAS QUE VOCÊ NORMALMENTE ENCONTRA?

As maiores dúvidas das famílias são com relação aos exames vestibulares e o ENEM. Esses exames terão, por lei, de ser reformulados e adaptados à BNCC e às mudanças impostas ao Novo Ensino Médio. Os Artigos 31 e 32 da Resolução nº 03 de 21/11/2018 do Conselho Nacional de Educação (CNE) determinam que esses exames “deverão necessariamente ser elaborados em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o disposto nos Referenciais para a Elaboração dos Itinerários Formativos”; e que o exame deve se realizar em duas etapas: a primeira, para avaliar as competências e habilidades da BNCC; e a segunda, as aprendizagens das Áreas de Conhecimento, desenvolvidas nos Itinerários Formativos. O estudante deverá escolher as provas da segunda etapa de acordo com a área do ensino superior que pretende cursar, e as instituições de ensino superior devem considerar os resultados de ambas as etapas em seus processos seletivos, quando for o caso.

Cabe registrar, ainda, que o CNE instituiu normatizações, tanto para a Formação Continuada dos professores que estão atuando, como também para a Formação Inicial de Professores. Isso significa que as Faculdades e Universidades terão, também, de reformular seus Planos de Curso, atualizando-os conforme a abordagem da BNCC, que é a de desenvolver competências e habilidades em todo o processo de construção de conhecimento, que deve contextualizar os conteúdos, tornando-os mais significativos e úteis à vida dos estudantes. Portanto, tanto a formação continuada como a formação inicial de professores estão sob as determinações legais, definidas pelo CNE.

CONVITE A UMA REFLEXÃO:

“Hoje vivemos, não uma época de mudanças, mas uma mudança de época. No milênio que começa, temos algo imprecisamente chamado de pós-modernidade, mas que será bem diferente de tudo o que possuímos atualmente em termos de referências ou paradigmas.”

Passados 21 anos desta publicação de Frei Betto, pensamento retirado do seu artigo intitulado “Crise da Modernidade e da Espiritualidade”, publicado no ano 2000, parece-me que sim, vivemos sob muitos referenciais e paradigmas bem diferentes do que tínhamos. Deste trecho, eu gostaria de me ater apenas a uma reflexão sobre a questão dos paradigmas deste século XXI, principalmente com relação à educação.

Quais são os paradigmas da educação, hoje? Como deve ser a produção de conhecimento para e neste século XXI? Aprender disciplinarmente é suficiente para desenvolver habilidades de resolução de problemas, de autonomia e de protagonismo, principalmente se considerarmos os avanços científico e tecnológico deste século? Uma aprendizagem significativa passaria, necessariamente, pela inter e transdisciplinaridade?

Se são muitas perguntas, quase todas sem respostas precisas, acredito que vale reconhecer que, em qualquer processo educacional, o estudante deve, sim, estar no centro da aprendizagem e da vida escolar. Deve-se primar pelo seu desenvolvimento integral e pela sua formação para a vida no século XXI. Deve-se estimulá-lo à autonomia, ao protagonismo e à responsabilidade em relação às suas escolhas presentes e futuras. Deve-se contribuir para a promoção do desenvolvimento integral dele, contemplando o seu projeto de vida em todas as suas dimensões: física, intelectual, cultural, social, emocional e espiritual. Por fim, deve-se praticar uma escuta ativa e qualificada para que eles mesmos sinalizem as melhores possibilidades de acolhimento, em que o respeito às diversidades e às singularidades seja assegurado, o estímulo ao bom convívio seja uma realidade, para que as melhores mudanças aconteçam no mundo a partir das pessoas que foram, efetivamente, transformadas pela educação.

Principais legislações do Novo Ensino Médio:

1 - Base Comum Curricular (BNCC);

2 - Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, atualizadas pela Resolução nº 03 do Conselho Nacional de Educação;

3 - Referenciais para Elaboração dos Itinerários Formativos, Portaria 1.432;

4 - Lei 13.415 de 16/02/2017 altera a LDB 9.394/96;

5 - Cronograma de Implantação do Novo Ensino Médio disponível no site do MEC.

Fonte: RSB-Comunicação